terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

HISTÓRIAS DA BOLA !



LARGA ELE NEGRÃO ! UMA HISTÓRIA DE ORTUNHO E SAPIRANGA

       Jorge Carlos Carneiro, o Ortunho foi um dos jogadores mais importantes na história do Grêmio. Titular da lateral de 1959 a 1967, com oito títulos regionais. Exatamente por ter sido refugado pelo Inter, seu futebol crescia nos Gre-nais onde travava duelos 'sangrentos' com o ponteiro Sapiranga do Inter. Já Cláudio Adão Weiss, o Diabo Loiro, era atacante, nascido em 22 de março de 1937, em Novo Hamburgo, tendo começado no Floriano (atual Novo Hamburgo), em 1955.
       Pois Ortunho e Sapiranga protagonizaram memoráveis duelos, alguns com requintes de crueldade, em clássicos gre-nais da segunda metade dos anos 50, até meados da década seguinte. Não obstante a rigidez das jogadas, de ambos os lados, com Ortunho batendo muito e Sapiranga aguentando no granito do peito, e reagindo sempre que possível.
A verdade é que, fora de campo, ambos eram grandes amigos. Amigos de se visitarem, até. Ou seja, a rivalidade, tal como deve de fato ser, terminava quando o juiz trilava o apito.
Certa feita, num Gre-nal que havia terminado empatado, o prêmio de melhor em campo do jornal Folha da Tarde teve que ser dividido. O prêmio era uma muda de roupa, sempre para o melhor do quadro vencedor. Como neste jogo dera empate, foi escolhido um vencedor de cada lado.
       O clássico em questão foi disputado em 20 de novembro de 1960, e terminou com o escore de 1x1, valendo pelo Citadino Porto Alegre, o campeonato da Divisão de Honra, que reunia, ainda, os clubes de São Leopoldo, Novo Hamburgo e Caxias do Sul, e, naquele ano excepcionalmente, o Veronese, de Canoas. Era a última vez que a "tal Divisão de Honra" era disputada. A partir do ano seguinte os certames regionais deixariam de ser disputados, como classificatórios ao Gauchão, e o Estadual passaria a ser disputado por um número fixo de clubes, com jogos em turno e returno. Bem, mas , naquele clássico no Olímpico, o centroavante Juarez, o Tanque, fez o gol do Grêmio e Deraldo, um ponteiro carioca que viera para o Pelotas, e dali para o Inter, empatou. O jogo teve de melhor, no entanto, mais uma renhida batalha entre Ortunho e Sapiranga. O gigante de ébano tricolor bateu tanto, tanto, mas tanto, que Sapiranga teve que sair carregado de campo.
       Pois nos albores daquela década, consagra-se a invasão das calçadas da rua Voluntários da Pátria e da Praça XV de Novembro por ambulantes que vendiam meias, guarda-chuvas, camisetas, cintos, toalhas de mesa, carteiras, rendas, espelhos e canetas. Ali perto, estava a tradicional loja Guaspari, na avenida Borges de Medeiros, nº 262, entre as ruas José Montaury e Largo Glênio Peres. A Guaspari, fundada em 1936, era uma loja de confecções no estilo Renner, e era ela que presenteava os craques dos jogos, no caso daquele clássico os dois.
Pois no dia seguinte ao clássico, na segunda-feira, ali por volta do meio dia, eis que Ortunho e Sapiranga chegam ao prédio da Guaspari para receber o prêmio. Chegam juntos, por coincidência, e na entrada da loja, Ortunho dá um abraço em Sapiranga, como se fosse uma gravata, carinhosamente.
       Nisso, um ambulante que estava próximo dali, vendendo guarda-chuvas, colorado, claro, grita, empunhando seu material de trabalho:
-Larga ele Negrão ! Já não chega o que tu bateu nele ontem ? Larga ele negrão, tu é grande mas não é dois e vai comendo essa massa.. E já desferiu um "guarda-chuvaço" no crioulo.
       Não fosse a agilidade de atleta do Ortunho, a pronta intervenção de alguns populares, e o pronto esclarecimento da situação por parte de Sapiranga, Ortunho novamente teria que usar uma bandana de proteção na cabeça, como num gre-nal certa vez, tamanho a pancada que receberia.


Rogério Bohlke

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