terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Histórias da Bola !!!

1966: CONFUSÃO EM CONVOCAÇÃO DA SELEÇÃO BRASILEIRA. UM DITÃO CONVOCADO E OUTRO DITÃO, IRMÃO DAQUELE, RELACIONADO




       O ano de 1966 foi, com certeza, o mais confuso e atrapalhado da história da seleção brasileira. E só deixou de ser o mais catastrófico por causa dos "7x1", de dois anos atrás, na semi-final da Copa do Mundo aqui no Brasil. Era, também, até então, aquele ano o pior, com a eliminação sumária, logo na 1a. fase, com derrotas para a Hungria e Portugal, e uma única e mísera vitória, na estreia, sobre a Bulgária, na última vez em que Pelé e Garrincha jogaram juntos.
       Em julgando pelo o que antecedeu a participação da seleção naquele mundial, já era de se prever o fiasco naquela Copa da Inglaterra. Convocações de jogadores desconhecidos, desconvocações de atletas por pressão da imprensa e convocação de outros, para satisfazer estados fora do eixo Rio-Paulo, chamamento de atletas lesionados, amistosos e derrotas para clubes nacionais, viagens longínquas e desgastantes, arrastando a seleção por todos os quadrantes do Brasil, indefinições de toda ordem, do esquema tático até o local de concentração, entre outros fiascos.
       Mas teve um, que entrou para a história. Foi uma de "cabo de esquadra". Para o período de treinamento em Serra Negra-SP e Caxambu-MG , visando a Copa do Mundo daquele ano, Vicente Feola chamou 47 jogadores. Relação entregue para um funcionário da CBD ( hoje, CBF), o secretário foi ditando para a datilografista da entidade, que afixaria a relação no quadro de avisos para que a imprensa apontasse os nomes e fizesse a divulgação.
       Ai, a primeira falha. Ou por preguiça, ou por não gostar de escrever, ou por não saber muito bem "acolherar" as letras, o técnico da seleção apenas botou o nome dos jogadores, sem observar o clube de cada um.
       O secretário, para enfeitar ou demonstrar conhecimento, ia ditando o nome e acrescentando por conta, o clube de cada um:
-Gilmar, dos Santos; Djalma Santos, do Palmeiras, Belline, do São Paulo..
       E por ai foi.
       Lá pelas tantas , apareceu o nome de Ditão e o secretário, ou era corintiano, ou não era tão "entendido" assim, e não sabia que também havia um "Ditão", no Flamengo, irmão do corintiano, não titubeou:
-Ditão.....do Corínthians.
       Ao chegar no dia seguinte na sede da CBD, Feola foleava os jornais e quase caiu da cadeira quando viu a imprensa repercutir a convocação de Ditão, do Corínthians. Um zagueiro já veterano, quase, 28 anos, que recém fora contratado pelo Timão para "quebrar o galho", e que nem titular absoluto era. Esse Ditão, cujo primeiro nome era Geraldo, tinha surgido no Juventus, e depois jogado por oito anos na Portuguesa, sempre discreto tanto que, já a sua contratação pelo Corínthians já causara espanto.
       Na verdade, Feola queria ter convocado, e de fato convocara, o Ditão do Flamengo, que era irmão do "Ditão Corintiano". Esse sim, bom jogador, ou pelo menos bem superior ao seu homônimo. Os dois "Ditões", na verdade, eram de uma família de desportistas. Seu pai, também chamado de Ditão, tinha jogado no Juventus da Rua Javari por 20 anos, entre 1935 e 1955. Um outro irmão, ainda, de nome Flávio, tinha passado por Saad, São Carlos e Bragantino. Havia ainda outro, de nome Adílson, que preferiu jogar Basquetebol.
       O Ditão do Corínthians, compensava suas deficiências técnicas com muita raça e dedicação. Tinha um particularidade. Quando havia uma cobrança de escanteio no ataque do seu time, ia para a área adversária e botava a mão num calcanhar. Era uma espécie de código. De acordo com o calcanhar na qual botava a mão, era o local para onde partiria para o cabeceio. Foi esse Ditão, que num lance pelo Robertão de 69, o extinto Torneio Roberto Gomes Pedroso, o embrião do Campeonato Brasileiro, que num lance involuntário, num jogo do seu Corínthians x Cruzeiro, deu uma bolada no olho de Tostão, ocasionando, mais tarde, o abandono prematuro da carreira do craque mineiro.
       Já o "Ditão" quente, Gilberto de Freitas Nascimento, que mora no Rio de Janeiro, e que era o pretendido por Vicente Feola naquela ocasião, tinha surgido no XV de Novembro de Piracicaba (SP), antes de ir para o Cruzeiro e depois do Flamengo. Esse Ditão, esteve completamente desaparecido de 1982 a 2006 e só reapareceu no enterro de Flávio, seu irmão.
       A título de curiosidade, os 47 jogadores convocados, devido a forte pressão dos dirigentes dos clubes, para o período de treinamento em Serra Negra-SP e Caxambu-MG como preparação para a Copa de 66, na Inglaterra, foram: Fábio , São Paulo, Gylmar , Santos, Manga , Botafogo, Ubirajara Mota , Bangu e Valdir , Palmeiras (goleiros); Carlos Alberto Torres , Santos, Djalma Santos , Palmeiras, Fidélis , Bangu, Murilo , Flamengo, Édson Cegonha , Corinthians, Paulo Henrique , Flamengo e Rildo , Botafogo (laterais); Altair , Fluminense, Bellini , São Paulo, Brito , Vasco, Ditão , Flamengo, Djalma Dias , Palmeiras, Fontana , Vasco, Leônidas , América/RJ, Orlando Peçanha , Santos e Roberto Dias , São Paulo (zagueiros); Denílson , Fluminense, Dino Sani , Corinthians, Dudu , Palmeiras, Edu , Santos, Fefeu , São Paulo, Gérson , Botafogo, Lima , Santos, Oldair , Vasco e Zito , Santos (apoiadores); Alcindo , Grêmio, Amarildo , Milan, Célio , Vasco, Flávio , Corinthians, Garrincha , Corinthians, Ivair , Portuguesa de Desportos, Jair da Costa , Inter de Milão, Jairzinho , Botafogo, Nado-Náutico, Parada , Botafogo, Paraná , São Paulo, Paulo Borges , Bangu, Pelé , Santos, Servílio , Palmeiras, Rinaldo , Palmeiras, Silva , Flamengo e Tostão , Cruzeiro (atacantes).
       
Como se observa, para evitar um "mico" ainda maior, o "outro" Ditão, o do Flamengo, também foi relacionado no dia seguinte, sem que, para não ficar tão feio, assim, o "outro" fosse desconvocado.


Rogério Bohlkle


Este blog tem o apoio de MASAL GUINDASTES HIDRÁULICOS


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